sexta-feira, 6 de junho de 2008

Brasileiros desenterram filhote do maior jacaré de todos os tempos

Animal provavelmente era um 'adolescente' de 5 m; adultos podem ter chegado aos 15 m.Purusaurus brasiliensis viveu no Acre durante o Mioceno, há 8 milhões de anos.



Chega a ser ridículo usar a palavra "filhote" para se referir um jacaré de 5 m de comprimento, mas no caso do extinto Purussaurus brasiliensis, de 8 milhões de anos, é preciso abrir uma exceção. Afinal, o bicho é o maior que já existiu entre os membros de seu grupo, e os adultos talvez tenham chegado à estarrecedora marca dos 15 m. Uma dupla de paleontólogos brasileiros desenterraram um filhotão da espécie pela primeira vez, mostrando que, na adolescência, ele já deixava no chinelo a maioria dos jacarés vivos hoje.

Andréa Maciente, da Universidade Federal do Acre, e Douglas Riff, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, estudaram um crânio parcial e uma mandíbula direita do filhote-monstro, oriundo do sítio Talismã, em território acreano. A dupla apresentou dados preliminares sobre o achado no VI Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, que aconteceu recentemente na USP de Ribeirão Preto.

Riff explicou ao G1 o método para identificar que se trata de uma "criança" da espécie. "É como um bebê, que ainda tem a moleira", diz ele. "Dá para perceber que as suturas entre os ossos ainda estão frouxas. Ao longo do tempo, elas vão se fundindo, até chegar à idade adulta. Seria possível tentar estimar a idade exata do filhote observando os anéis de crescimento nos osteodermas [as placas de proteção no couro dos bichos], mas infelizmente não temos osteodermas preservados de Purussaurus", afirma o paleontólogo.

Como nossos pais

Fora a "moleira" crocodiliana, o animal juvenil tem todas as características que permitem a identificação como membro da espécie gigante. Um exemplo é a presença de cristas em volta das órbitas dos olhos, um traço que antes era considerado típico de adultos. Mas, como revela o novo fóssil, os filhotes já o exibiam.

As estimativas de tamanho do bicho, seja para o juvenil, seja para a forma adulta, dependem em grande parte de extrapolações feitas com base no crânio -- daí um certo grau de incerteza. "O tamanho do rostro, por exemplo, pode inflar a estimativa", diz Riff. No entanto, é praticamente certo que o bicho media, de corpo inteiro, algo entre 12 m e 15 m de comprimento. No caso, os 22 cm de caixa craniana e os 71 cm de comprimento mandibular total indicam os 5 m do filhote. "Para se ter uma idéia, os maiores indivíduos da maior espécie atual, que é um crocodilo australiano, chegam a 8 m", afirma o paleontólogo.


Curiosamente, o intervalo entre 12 m e 15 m também é o que se estima para alguns outros crocodilos e assemelhados do passado, que entram para o rol dos maiores de todos os tempos. "Será que esse é um limite para o quanto esses animais podem crescer? Não sabemos", diz Riff. "No entanto, as outras espécies de tamanho comparável eram mais delgadas, enquanto os caimanídeos [grupo dos jacarés sul-americanos] são mais gordos, mais massudos. Por isso, em peso, o Purussaurus provavelmente era maior que todos eles."

Terra de gigantes

Gigantismo, aliás, é o que não faltava à fauna sul-americana de 8 milhões de anos atrás. Além do Purussaurus, havia uma série de outros répteis grandalhões, como a Stupendemys, uma tartaruga de 3 m, primos da capivara com o tamanho de um búfalo, e outras monstruosidades. O porquê? Água, água para todo lado, diz Riff.


É que, pouco antes da formação do atual sistema de rios da Amazônia, a região se transformou numa imensa planície alagável, que lembrava um pouco o Pantanal. Muitos nutrientes chegavam aos lagos da região, vindos da região dos Andes, gerando grande fertilidade de fontes primárias de alimento -- obviamente aproveitadas pelos bichões. E a mata fechada ainda não existia. Ou seja, a equação é basicamente muita comida + muito espaço = bichos gigantescos.

O Purussaurus estava especialmente adaptado para se aproveitar das fontes aquáticas de alimento. Como os jacarés modernos, seus olhos e narinas estavam localizados no alto da cabeça, para facilitar o nado. "Ele era tão ou mais aquático que os jacarés atuais. As pernas eram muito curtas. Só precisaria da terra firme para desovar", diz Riff.


Fonte:G1

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